Era um moleiro, num moinho de água, tinha lá uma casinha e um gato, um gato já velho, gordo.
E então estava lá um rato avezado ao trigo, estava gordo, comia e bebia. Um dia, o rato foi dar uma voltinha ali ao mato. Encontrou outro rato, um rato muito magrinho:
– Então? Estás tão magro…
– Então não hei-de estar! Não tenho nada para comer. E tu, estás tão gordo?
– Vivo no moinho!
– No moinho? E então?
– Tem fartura de trigo, milho. Faz farinha! Como e bebo…
– E então não há lá nenhum gato?
– Está lá um gato velho, gordo, leva os dias deitado, dormindo. Não há problemas com o gato, nem tão pouco dá por nada. Havias de lá ir comigo, tinhas uma refeição, comias lá.
– Então vamos!
Foram até lá. Entraram no moinho, diz o rato magro para o rato gordo:
– Aonde é que está o gato?
– Está dormindo.
Lá estiveram comendo e bebendo, farinha e trigo e tal e tal, diz o rato magro:
– Agora já estou bem, o pior é o gato.
– Não. Eu passo lá ao pé e já vês como é.
Passou ao pé do gato e, tau!
Ficou na boca do gato, o outro fugiu.
Olha, mais vale o magro no mato, que o gordo na barriga do gato.
Manuel Cipriano
Corte da Velha
29 de Setembro 2020