Eu trabalhei muitos anos em Sines, na refinaria. Na minha camarata havia um senhor de São Teotónio. O homem levava a noite a ler, era carpinteiro de cofragens. Só aí para o lado das quatro ou cinco da manhã é que pousava os livros.
Eu perguntava, ó homem tanta tempo que você leva a ler nesse livro aí…
Dizia ele:
– Tenho que ser um homem rico e um homem feliz.
– A ler? Ó pá! Deixe-se disso. Raios parta o sovão que você leva com isso.
– Vamos a ver!
Foi mais de um ano naquilo, sempre, sempre,sempre…
Um dia diz-me:
– Tu és da zona de Mértola?
– Sou!
– Conheces um sítio chamado Penedo do Gato?
– Sim, conheço!
– É pá! Vou dizer-te uma coisa. Tu não te importas de ir lá um dia comigo a esse Penedo do Gato?
– Não me importo nada, desde a hora que seja um dia que seja bom.
A esposa dele era professora e então diz-me ele assim, tenho que lá ir.
Um belo dia, era fim de semana aparece-me ele aqui mais a mulher. Bateram à porta:
– Que é que vens para aqui fazer?
– Venho à procura do Penedo do Gato, em tal sítio está um pote cheio de libras em ouro, numa fonte.
– Com essa agora é que tu me matas. Alguma vez? Andam por lá maiorais, homens a lavrar terras e não encontram lá disso?
– Eh pá! Tu tens que ir comigo.
E então fui mais eles, a minha esposa não quis ir. Estava um dia de calor, fui ao Penedo do Gato mais ele. A indicação dele estava certa, vamos passar por tal sítio em que estava uma clareira, há um caminho e tal, vamos por aí. Eu lá ia com ele, chegámos, corremos aquilo tudo, ele esteve a olhar e disse-me assim, aqui não, tens que me dizer onde é a fonte. A fonte é lá mais em baixo, mais 500 metros. Essa fonte tem uma parte desta e daquela maneira, de facto era verdade. Ele levava uma lata qualquer, chegamos e disse, é esta fonte mesmo. Diz à mulher, vamos ser felizes. O homem até mudou de cores assim viu a fonte. Agora temos que tirar daqui esta água disse ele.
– Eu não tiro água nenhuma! Alguma vez está aí um pote cheio de dinheiro?
Óh Xico! Acredita que é verdade!
A mulher disse, deixe o meu marido trabalhar.
E então toca de trabalhar, toca de trabalhar, toca de tirar água, toca de tirar água, mas a fonte tinha muita água, e vá de tirar água, até que chegou ao fundo e tirou uma moeda do tempo do escudo e disse:
– Cá está! Cá está!
Diz a mulher assim:
– Olha, o meu marido já ficou feliz. É em ouro?
– Não, é escudo.
– Oh! Então é melhor irmos embora!
Ele passou-lhe uma descompostura, mandou-a para o carro e lá ficou. E se me parecesse que era hora de ir ele dizia, vai para lá mais ela que eu tenho aqui que trabalhar.
Não sei o que é que o homem cavou ou não cavou, escavou tudo em volta. Era quase noite quando lhe digo:
– Ó Luís temos que ir embora!
– Eu vou embora, mas ainda volto cá outra vez!
Não sei se voltou ou não, mas nunca mais vi esse moço.
Xico Zé
Ledo
1 de setembro 2020
[A propósito de tesouros e outras quimeras, o Xico Zé saiu-se com esta aventura passada com um antigo colega de trabalho. Em matéria de tesouros o que há mais são fantasias.]
One comment on “A fortuna do Penedo do Gato”
Uma história muito engraçada.
Sou também de Mértola. Recordo com saudade histórias parecidas com essa que meu pai contava.