Eram dois indivíduos que não tinham trabalho e vai daí combinaram:
A gente vamos por aí por esse mundo fora, vamos vendo as paisagens do nosso sítio e vamos conhecendo pessoas a ver se arranjamos trabalho. E vamos contando umas anadotas disse o outro.
E a gente safar-se á?
A gente vai experimentar.
Abalaram os dois por esses caminhos afora, por esse mundo fora e um ia à frente e outro atrás.
– Porque vais tu à frente? – perguntou o que ia atrás.
– Eu vou à frente contando uma mentirota, vou fazendo a mentira e tu vais atrás compondo a mentira.
– Está bem-disse o outro.
Abalaram os dois por aí afora, o da frente chegou a um sítio ali por voltas do meio dia. As pessoas assim que o viram foram a perguntar:
– Então você é da onde?
– Eu sou de tal parte.
Há sempre aquelas pessoas assim mais curiosas e perguntou-lhe logo uma senhora assim:
– E o que é que há de novo lá para a sua terra?
– Lá na minha terra há lá agora um caso muito triste.
– Então o que é?
– Foi uma criança que nasceu com sete braços
– Ehhh! Tal é isso agora! Uma criança com sete braços. E você viu?
– Eu não vi, mas ouvi falar às pessoas que a criança tinha nascido com sete braços, numa maternidade, ainda não teria vindo.
O homem despediu-se e foi-se embora. Daí a nada, uma hora de diferença ou pouco mais, chega o outro colega dele que ia atrás.
Bom dia, bom dia, aquela coisa e o você é de onde.
– Sou de tal parte.
– Mesmo agora saiu daqui um senhor que é desse sítio. Então ele esteve a dizer que havia lá uma desgraça muito grande, tinha lá nascido uma criancinha com sete braços.
– Olhe, eu também não vi, mas olhe que eu passei lá e vi um estendal com uma camisa com sete mangas.
José Rosa Pereira
Espírito Santo
14 de Setembro 2020