Era no tempo da fome. Um homem chegou ao monte de um lavrador e foi pedir trabalho.
– Não me arranja para aí um trabalhinho que já há mais de 15 dias que não como, não apanho nada para comer.
– Então vá, já arranjamos qualquer coisa.
O lavrador tinha lá uma arvore com uns dois metros de diâmetro.
– Rica árvore que você tem aqui dava um santo que era um espetáculo!
-Você era capaz de o fazer?
-Então não houvera de ser?
Todos os dias enchia a barriguinha, já havia 3 meses que andava de roda do santo, levou as ferramentas todas lá para o pé, ia cortando com uma enxó, cortinhando de aqui para ali, vai ficar bonito.
Ao fim de uns três meses já ia estando gordinho e disse:
– Estou muito aborrecido patrão!
– Então por quem?
– Dei agora uma machadada mal dada, estraguei o santo!
– Não me diga!
– Sim senhora!
– Então agora o que é que você pode fazer daí?
Um pau tão grande estava já numa coisa tão pequenina e diz ele:
-Agora só umas caixinhas de palitos para limpar os dentes.
António José Lourenço
Moreanes, 6 de setembro 2020
[Na sessão de Contos ao Largo feita em 2020 em Moreanes, escutámos o António Lourenço e com ele nos rimos desta história. Parece que ainda estamos a ouvi-lo rir.]