A ida ao baile
O meu sogro era do Ledo e quando era moço foi a um baile à Morena. Sozinho, não haveria lá moço nenhum das idades dele, foi sozinho, às escuras. Ora já viu o que é no campo, só mato por essas veredas. Então chegou a um sítio onde havia uns loendros, ao passar de um barranco ouviu um gemido qualquer lá de dentro do barranco, uma coisa a gemer. Ora uma pessoa sozinha ali num descampado no meio do mato, cá vai ele.
Lá foi para o baile, lá se divertiu, os bailes nessa altura duravam até ao outro dia, por fim comeu uma açorda. Quando voltou havia já um pedaço de sol. Então lembrou-se, deixa lá ver o que é que se passou, encheu-se de coragem para ver o que é que estava para dentro do barranco. Foi dar com uma ovelha embarrancada, caiu, não conseguiu dar volta e estava gemendo. Foi o medo que ele apanhou. Eram os medos que havia, eram esses.
Manuel Brito
Martinhanes
28 setembro 2020
[ O Manuel Brito já não está entre nós, ficou muita coisa por dizer e ouvir.
Do muito que nos contou na sessão dos Contos ao Largo, escolhemos hoje esta narrativa dos medos em tempos de escuridão, em que as noites eram longas, e o breu era rastilho das mais negras fantasias.]