A arte e a manha
Quando Deus formou o mundo, num paraíso encantado, mandou chamar os animais todos para o seu destino ficar marcado.
Não foram os cães todos, foi só um. Foi um burro, foi uma águia, foi uma perdiz, um animal por cada espécie.
Foi um pássaro e disse, quero andar no ar. Pronto, andas no ar. Mas venho a terra para comer. Sim, pronto, andas no ar e vens a terra comer.
Vem o peixe, eu quero andar na água. Pronto, andas na água e arranjas comida na água. Vem outro, eu quero andar na terra, o lobo, o cavalo, o burro, quiseram andar na terra. Lá fizeram a reunião, cada um com os seus destinos traçados.
Mais tarde foi um lobo que não sabia o resultado, aproximou-se de um rio viu um peixe, o peixe já sabia o resultado:
– Então? Não foste à reunião?
– Não fui, qual foi o resultado?
– Eu já sei o resultado- diz o peixe
– Ah sim? O que é que escolheste?
– O meu chefe escolheu o fundo do mar ou do rio. E o teu escolheu a montanha.
– E então o homem, escolheu quem?
– O homem escolheu a arte e a manha.
– Ah sim? O homem escolheu a arte e a manha? Olha, nem tu escapas no fundo do mar, nem eu na montanha.
Manuel Cipriano
Corte da Velha
29 Setembro 2020
( Manuel é um grande contador da Corte da Velha, é numa taberna assim, muitas vezes de mata-moscas na mão, que se contam histórias.)