Toda a gente trabalha.
Toda a gente trabalha a caiar uma parede, a cuidar de uma horta, dos bichos, o que seja.
Aqui não é, levanto-me da cama, bebo o café e sento-me numa cadeira, esperar pelo meio-dia, o almoço, e vou dormir a folga. Acaba a folga, merendinha, e senta-se numa cadeira, isso não há, isso não dá, toda a gente faz qualquer coisa, não se anda a coçar o dedo no telemóvel, isso só serve para ligar à filha a saber da netinha.
Há a cal derregada ontem para espalhar na parede antes que o sol se erga a prumo e nos encandeie o serviço. Levantamo-nos ainda era escuro, quando se anda a lidar à vontade, colhi uma ameixa santa rosinha ainda fresquinha para me molhar a goela de sumo doce, fui ver dos bichos, se andou por lá a zorra, deitar-lhes a sêmea. Depois colher um balde de tomate, um poucachinho para as galinhas, outro para o sovão e o melhor, o coração, para fazer o gaspachinho, que é o que apetece. Depois então chega a folguinha.
Só então se dá o dia por ganho, que andar na rua com esta calma, é coisa de penantes ou fraquinhos do sentido.
Mas aqui, toda a gente trabalha.