Era uma vez um casal, casaram, depois viviam na esperança de ter um filho. Por mais diligências que fizessem não conseguiam, até que um dia a mulher pediu a Deus que lhe desse um filho, nem que fosse do tamanho de um baguinho de milho. Um dia teve um filho, mesmo do tamanho de um baguinho de milho. E então o pai do baguinho de milho lavrava no campo e na hora do almoço era o baguinho de milho que ia levar o almoço ao pai, nas redondezas as pessoas diziam que aparecia um chapéu a andar que era o mocito que ia levar o almoço ao pai, quando chegava lá o baguinho de milho saltitava por aqui e por acolá e o pai sentava-se a comer e soltava os bois também, enquanto saltitava por lá sentou-se em cima de um olho de couve, o boi andava solto, foi e comeu a couve, comeu a couve e o baguinho de milho foi parar à barriga do boi.
O pai quando acabou de almoçar andou à procura do baguinho de milho por aqui e por ali e não encontrava o baguinho de milho em lado nenhum, chamava por ele:
– Baguinho de milho, baguinho de milho! até que às duas por três ele respondeu:
– Estou aqui pai.
– Onde?
– Estou na barriga do boi!
E agora para tirar o baguinho de milho da barriga do boi? O baguinho de milho dizia:
– Pai, mate o nosso boi dourado que há-de dar para três e quatro!
O pai não sabia o que aquilo queria dizer, mas matou o boi para se lhe tirar as tripas, depois as mulheres foram à ribeira lavar as tripas a ver se se via o baguinho de milho. Iam elas com os alguidares à cabeça quando vem uma grande matilha de cães ou lobos, elas com medo fugiram e ao saltar um barranco deixaram cair da cabeça o alguidar, os lobos comeram as tripas e lá foi o baguinho de milho parar à barriga do lobo. O lobo foi andando e encontrou a comadre
– Comadre zorra não sei o que é isto, ando com uma grande dor na barriga e oiço cá de dentro dizer, ó maioral, lá vai a zorra ao gado.
Era o baguinho de milho que estava dentro da barriga avisando. A raposa disse-lhe:
– Olhe, o compadre faz assim, passa por aquele tronco daquela azinheira e esfrega-se ali. Quando se esfregar, sai um ventinho e isso deve passar.
Bem, ele assim fez, esfregou-se no tronco da azinheira saiu o ventinho e saiu o baguinho de milho. Isto já era noite, o que é que o baguinho de milho fez? Tinha medo e subiu ao tronco da azinheira e não sei porquê estava uma porta em cima da azinheira e ele escondeu-se lá em cima da porta.
Durante a noite apareceram os ladrões ali a contar o dinheiro e a partir o dinheiro, este é para mim, aquele é para ti, e o baguinho de milho dizia lá de cima, e para mim nada. Os ladrões ouviam aquela voz e não percebiam de onde vinha, calavam-se, parece que há ai gente mas não viam ninguém e continuavam este é para mim, aquele é para ti até que se ouvia outra vez o então e para mim nada? Parece que soa aí gente, mas continuavam no este é para mim, aquele é para ti e o baguinho de milho às duas por três já via ali muito dinheiro fez cair a porta e eles fugiram com medo, o baguinho de milho tratou de apanhar o dinheiro todo pôs um saco às costas e foi para casa. Bateu á porta de casa e o pai, por onde é que andaste? Lá lhe contou as peripécias todas e então não dizia eu pai, que matasse o nosso boi dourado que haveria de dar para três e quatro?
Com aquele dinheiro compraram três ou quatro bois.
Graciette Vaz
Via Glória
5 de maio de 2021