De outra vez, Nosso Senhor e o diabo tomaram uma seara de empreitada, à mão, com uma foice. Eram muito influentes com o trabalho, era o que diziam, o lavrador acertou com eles, dou-lhe tanto, e dou-lhe as sopas e vocês ceifam isso.
Está bem. Foram lá para o campo e havia lá muito trabalho. Fizeram uma cabana e dormiram lá. No outro dia de manhã foram lá, foi o empregado do lavrador levar-lhes a comida, não tinham feito nada, estavam deitados. O homem deixou lá a comida, tal e tal, foi-se embora.
Diz-lhe o lavrador, então? Que tal?
Estavam deitados e nada ceifado.
Ora essa!
Isto foi de manhã, voltou lá ao meio dia a levar as sopas, estavam deitados e estavam dormindo.
– Olhe! Estavam dormindo!
– E não tinham nada ceifado?
– Nada!
– À noite vou eu levar-lhe a comida. Se não houver nada ceifado, lenha!
Foi lá o lavrador, estavam deitados e nada feito.
Estavam na cabana Deus Nosso Senhor ao canto, o diabo estava na ponta.
– Ah sim? -diz o lavrador. Um está na ponta, vá de lhe dar porradas.
Lá ficaram as sopas e o diabo levou uma sova.
No outro dia foi lá e diz o patrão para o empregado, então foste levar a comida e que tal?
– Está tudo na mesma, ainda não fizeram nada
– Ao meio dia vou eu.
Estavam deitados outra vez. Ai sim?
O diabo pensou, já não quero ficar na ponta, tinha lá levado uma sova mudou-se para o cantinho.
O lavrador disse ontem levou o da ponta hoje leva o do canto. Outra sova no diabo e lá ficou a comida.
No outro dia de manhã foi lá, estava tudo feito, ceifado e atado.
Manuel Cipriano
Corte da Velha
20-11-20
[ As partes de Deus e do diabo são uma constante, do tempo em que ainda seriam amigos. No dia mundial do trabalhador, percebemos que as questões laborais ao longo do tempo se resolveram de modo musculado. Hajam novos tempos]