As duas, barranco abaixo

Quando a gente trabalhou na mina, o barranco levava uma cheia que era um disparate, até fazia mazarulhos, e então, aquela senhora, com outra que não está já cá, está em Beja, uma delas foi pular o barranco, jogou o pulo mas levava uma saia de plástico, travou-lhe as pernas, não alcançou a medida e catrapuz, lá vai ela, desapareceu na água, deixei de a ver, a outra foi lá para salvar aquela, e foi atrás da outra.

E eu pensei que nunca mais as via, voltei as costas.

Deixei de as ver, elas foram água abaixo, que é que eu havia de fazer?

Elas depois foram sair lá mais abaixo, a primeira agarrou-se a um junco e esta ia atrás, pumba, agarrou-se também. Os almoços foram água abaixo, as roupas molhadas, voltaram-se, e vieram para o monte que nem um pintainho, coitadas.

Isolina Lampreia

Corte Pequena

16 Setembro 2020

 

 

[ Foi um momento hilariante e surpreendente, o momento de contar esta “parte”.

Não são necessárias histórias mais extraordinárias do que as partes que na vida nos calham.]

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