As cinco sortes do lobo
Era uma vez um lobo. Levantou-se de manhã e ao sair da toca deu-lhe o rabo cinco estralos. Olha que sorte, são cinco sortes.
Viu uma cabra:
– Eh cabra! Agora como-te!
Mas tinha acabado de se levantar, foi espreguiçar-se e enquanto se espreguiçou a cabra fugiu.
Ora, lá se foi uma sorte.
Abalou, foi à procura da cabra outra vez, abalou, encontrou uma porca com seis bacorinhos, disse:
– Eh porca! Agora como-te a ti e aos teus bacorinhos todos!
– Eh pá! Não me comas ainda que eles ainda não estão baptizados. Vamos lá baptizá-los primeiro e a seguir já os comes. Pões-te ali naquele pégo, ali é estreitinho, metes uma pata de cada lado, vou-tos dando passam a água e põe-los do outro lado.
Assim fez, quando ele lhe passou os seis bacorinhos, assim os viu a salvo, ela deu-lhe uma porrada com o focinho, ele caiu dentro do pégo, a porca fugiu com os bacorinhos, ele engoliu tanta água que se custou a dar de lá tirado.
Eh pá! Porca de um raio! Lá se foi outra sorte!
Ainda não tinha comido nada e já se tinham acabado duas sortes, foi, encontrou um cavalo.
– Eh cavalo! Agora como-te!
– Eh pá! Espera aí, não me comas ainda que eu tenho uma farpa aqui metida na pata e depois picas a barriga. Tira-me lá primeiro a farpa que depois já me comes.
Assim foi, o lobo agarrou-lhe na pata, assim que lhe tirou a farpa, o cavalo dá-lhe um coice e o lobo foi por aqueles ares, ia lá em cima viu uma coisa branca, era uma pedra grande e disse arreda-te cabra branca, senão eu mato-te, pensava ser a cabra, caiu em cima da pedra, coitado, ficou todo cingido com dores. Já se tinham acabado três sortes.
Abalou mais para a frente, encontrou dois carneiros que estavam guerreando.
– Eh carneiros! Agora como-vos aos dois!
– Espera aí, não comas ainda a gente, estamos aqui numa guerreia pelas partilhas da terra, põe-te aí no meio servindo de malhão, depois já comes a gente, deixa-nos acabar a guerreia.
Assim fez, meteu-se lá no meio, veio um de cada lado, levou tal porrada que ficou outra vez cingido com dores.
Já se tinham acabado quatro estralos, faltava só um.
– Então agora! Ainda não comi nada.
Abalou, encontrou uma vaca, estava presa por uma corda e a corda presa numa estaca
– Agora presa é que a não deixo safar. Eh vaca! Agora como-te!
– Eh pá! Não me comas ainda, tenho a barriga vazia, ainda não comi hoje nada, se for para aquelas ervinhas tão verdinhas, fico mais gordinha e depois logo me comes.
– Ah mas depois tu foges!
– Não! Atas a corda à tua cintura que eu assim não fujo.
A vaca lá esteve comendo, assim encheu a barriga aperta a fugir, o lobo pendurado na corda batia aqui ,batia ali…
É raio, se a corda não se parte ou o nó não se desata, tinha ido dar à porta do dono da vaca.
Nazaré Fabião
Azinhal
23 de Setembro 2020
[ A Nazaré é exímia a dar as entoações, e a usar as palavras como imagens para o que está a ser contado. Estreou-se no Azinhal a contar nas sessões de Contos ao Largo, à vista desta fantástica chaminé.]
00 comments on “As cinco sortes do lobo”
Gostei muito do momento que passamos nesta noite em Azinhal.Historias engraçadas que desconhecia A Nazaré teve muito bem com a história do lobo! Obrigada J F , obrigada C M
Foi um belo serão, assim haja muitos mais e esperamos contar com a sua presença.