A zorra e a cotovia semearam uma seara, às meias. Semearam, e ao tempo da ceifa:
– Temos que ir ceifar o trigo, – disse-lhe a cotovia.
– Ai comadre, não posso ir! Amanhã tenho um baptizado .
A cotovia lá ia ceifando sozinha:
– Ó comadre, mas você não vai ceifar?
– Ai amanhã tenho um casamento!
A cotovia vá de ceifar.
Assim foi passando o tempo, recolheram a semente, debulharam e diz a cotovia assim, agora vamos a dividir, a ver o que é que se há-de fazer, a comadre quase que não tem feito nada, eu tenho feito este trabalho todo.
Responde-lhe a zorra:
– A meu ver o melhor é assim, você sabe esgravatar, fica com a palha, esgravata isso aí, tem lá muitos bagos, aproveita aí muito e eu fico com este moitão- era o trigo.
Diz a cotovia consigo mesma:
– Bom, isto assim não está bom.
Abalou, vou buscar uma pinguinha de água fresca e vou pensar. Abalou, ia chorando caminho abaixo, encontrou um cão:
– Então comadre cotovia, vai chorando por quem?
Ela esteve contando, ora fez umas meias com a comadre zorra e agora aconteceu isto assim assim, ela agora quer o moitão do trigo e só me quer dar a palha porque eu sei esgravatar.
Diz ele:
– Nah! Não se preocupe. Eu agora vou para cima e escondo-me lá na palha, atrás do moitão da palha, e deixo as minhas ameixinhas de fora e você depois vai e leva a água. Conversaram e fizeram a conversa um com o outro, como é que havia de ser.
Ela foi, chegou com a cantarinha da água fresca:
– Comadre zorra tenho aqui água fresca.
– Ai tem aí água fresca? Dê-me aí uma gotinha.
– Olhe e não trouxe só água fresca, trouxe também umas ameixinhas.
– E onde estão elas?
– Tive medo de as trazer para aqui, poderia vir o patrão, estão ali por trás da palha, vai lá que estão lá escondidas.
Foi lá a zorra para ir apanhar as ameixinhas, o cão voltou-se a ela, ou dás parte à cotovia, ou eu
acabo contigo.
Olhem, foi assim que fizeram as partilhas.
Luísa Maria Costa Fernandes
Vale do Poço
7/11/21
[ Estas sociedades que incluem zorras, são história muito contada com vários parceiros para a raposa. Esta versão com a cotovia só a ouvimos no vale do Poço.]