Era um que era maluco. E depois a mãe dizia-lhe assim:-
-Tu tens que arranjar uma namorada!
– Oh mãe, mas eu não sei como é que é, como é que se arranja uma namorada.
- Oh filho, vais ali à das vizinhas, fazer um serão e dás-lhes de olho!
Ele guardava cabras, de que é que se lembrou? Tirou os olhos às cabras e meteu-os na algibeira. E foi a casa das vizinhas, sentou-se lá ao pé do lume com as raparigas e a mãe delas, era domingo à tarde, estavam todas muito compostas, muito limpas e asseadas, ele metia a mão na algibeira e jogava-lhes os olhos das cabras para cima, a mãe delas zangou-se:
- Então o que é que estás a fazer? As minhas filhas todas lavadas e tu….Ai minha mãe! Vai-te embora daqui!
Ele foi e contou à mãe fiz isto assim assim e zangaram-se comigo..
- Oh filho! Não é assim. Da próxima vez vais, dizes-lhes palavrinhas de dentro, palavrinhas doces.
Ele foi lá no outro domingo e disse, coração, bófes, pulmões e de lá lhe disseram:
- Ele não está bom da cabeça! Que conversa é a tua, vai-te embora!Chegou a casa da mãe e disse ai mãe, disse-lhes estas coisas assim assim e mandaram-me embora.
- Oh filho! Não! Na próxima vez levas uma flauta, cantas, pulas e danças!
Chegou lá, tinha morrido a avó delas, começou a tocar e a cantar, correram com ele.
Foi contar à mãe e ela disse:
- Ai filho desgraçado! Não é assim! Tu chegavas lá, ajoelhavas-te, rezavas.
Na vez seguinte foi, tinham eles matado um porco, chegou ele ajoelhou-se, rezou e eles riram-se dele e espantaram-no de lá.
Chegou a casa e a mãe:
- Oh filho desgraçado, não era assim que fazias, batias assim no porco e dizias, muitos como este.
Na vez seguinte foi , estava o velhote, o avô, tinha uns bichocos nas nalgas, estavam lhe fazendo tratamentos, chega além e bate-lhe lá a dizer muitos como este e o velhote:
- Eh lá! Já estes me doem tanto e ainda mais como estes? Filho dum cabrão desaparece-me já daqui.
Foi contar à mãe e ela:
– Não filho! Tu chegavas lá e dizias, daqui te mirres, daqui te seques, daqui não passes!
Quando foi lá estava o pai delas semeando uma arvore, disse daqui te mirres, daqui te seques, daqui não passes! Correu mal.
Veio contar à mãe e ela:
- Não! É daqui comas, daqui bebas, daqui pagues a quem deves! É o que tinhas que dizer.
Foi lá outra vez e encontrou-se com o velhote a dar de corpo atrás de uma parede. Ora, daí comas, daí bebas, daí pagues a quem deves. E ele:
- Óh filho de um cabrão, se me apareces aqui outra vez acabo contigo!
Nunca mais lá voltou!
Luísa Maria Costa Fernandes
Vale do Poço
7/11/21
[Esta história do maluco lembra-nos outros contos como o do “João Pateta”. Quem o conserva, a senhora Luísa Fernandes, contou-o na sessão dos Contos ao Largo decorrida em Vale do Poço]