Havia aí dois que guerreavam e havia um que batia no outro que foi obrigado a fugir, o que levava porradas dizia assim:
Quando eu vejo aquele galo
Trato logo de desertar
Se me alcança de vista
É capaz de me matar.
Há uma [que] é mais valente
Tem muito mais valentia
E eu tenho que andar á espia
Para o não ver de repente.
Mas se lhe apareço pela frente
Para ele é um regalo
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Que já me tomou de cerdeira
Tenho que tomar uma carreira
quando vejo aquele galo.
A cor dele é encarnado
E a minha cor é pedrez
Se me pica outra vez
É que eu fico desgraçado.
Tanto que ele tem cantado
E eu já perdi o cantar
Mas ele é capaz de me deixar
Numa certa condição
E quando vem aquele ladrão
Tenho logo que desertar
As vezes estou descuidado
Esgravatando na estrumeira
Passa-me uma rasteira
E eu fico logo deitado.
Também já tem picado
No alto da minha crista
Quando eu vejo aquele fadista
Pular em volta de mim
Eu já sei que levo fim
Se me alcança de vista.
Já não me deixa seguir
Para eu galar as galinhas
Uma cantiga das minhas
Também não gosta de ouvir
Já não me deixa dormir
Já não me deixa deitar
E de manhã ao levantar
Põe-se à porta do galinheiro
E se eu não acordo primeiro
É capaz de me matar.
Xico Zé
Ledo
13 Março 22
[ Xico Zé ocupa-se a tratar do galinheiro, lida com galos guerreões, galinhas chocas, poedeiras e esgravatadeiras. Tem tempo de imaginar o falar dos galos e em si lhe nascem versos ao que vê. Gratos ao Paulo Correia no apoio à organização formal do poema]