João Emílio está agora no lar, ainda é primo da minha mulher.

Aqui no montado, nesse tempo, as pessoas iam às boletas, roubar boletas, chamavam roubar ir buscar meia dúzia delas.

Isto era dominado pela guarda da Mina, a GNR da Mina, iam almoçar sempre ao monte do lavrador e para irem almoçar tinham que dar primeiro uma volta aí.

Tinham um coiteiro aí de guarda às bolotas. E o João andava às boletas. Viu vir os guardas e pensou, já estou tramado. Tinha uma saca já quase cheia, empinou-a ao pé da azinheira e foi direito à guarda:

– Tal é isto? Hein! Andam aí umas mulheres com abadas no avental, é só bolotas! Só bolotas! Tirei-lhes as bolotas todas, mas elas daqui foram embora, certamente continuam, vou atrás delas a ver. A mim não me enganam elas!

A guarda pensou, é o coiteiro das bolotas, está aqui o guarda.

Estavam almoçando e o lavrador andava no corredor, uns passos para um lado, uns passos para o outro e um guarda disse:

– Você tem um rico coiteiro aí nas bolotas.

E ele disse:

– Um rico coiteiro, porque é que está a dizer isso?

– A gente encontrámo-lo ali, já tinha uma saca cheia de bolotas tiradas ás mulheres com umas abadas cheias.

– Ai sim? Mas ouça lá, é que o coiteiro está ali, é esse senhor que aí está almoçando.

– Ora, mas não era este que estava lá.

E pronto, foram mas é levados e bem levados.

 

Manuel Henriques

Corte de Sines

29/6/21

 

 

 

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