Havia três ou quatro senhoras que iam ao mato em Espanha, iam bem longe buscar um feixinho de lenha, então tinham de ir de manhã muito cedo, pelas quatro da manhã, abalavam daqui apanhavam um gravato aqui, outro acolá, lá faziam o feixinho e vinham-se embora.
Chegaram à ribeira e havia umas baías onde semeavam melancia e melão, uma delas era viúva e tinha quatro filhos, vivia muito mal, muito mal mesmo, não tinha quem ganhasse. Descobriram uma melancia já boa, vinham já cheias de fome e de sede, pensaram, vamos a roubar uma melancia ao Ti André e a que era viúva e não tinha nada ficou assim encolhida.
Uma delas disse, a gente rouba a melancia e escondemo-la no meio da lenha, quando formos mais além, partimo-la e refrescamo-nos um bocadinho. Foram, descarregaram os feixes de lenha para descansarem um bocadinho, tiraram a melancia do meio do feixe e com uma lage, que não tinham faca, partiram a melancia.
A outra coitadinha que não tinha, estava encolhida.
-Come melancia!
E ela, encolhida, tinha medo. quando se comia uma laranja e se era apanhada, pagava-se cinco ou seis quilos, como se fosse roubo, tinha medo que a guarda aparecesse, ou o homem chegasse e fosse dar parte dela.
Outra lhe disse, come melancia!
Não quero, não tenho fome.
Tu não comes, mas se o Ti André aparecer, tens de pagar também.
Ah Putas de um cabrão! Deem cá uma talhada grande.
Santana de Cambas
4 de Setembro de 2020
[ No tempo em que se pagava por ser pobre, estas mulheres de Santana de Cambas transgrediram, o medo nunca matou a fome a ninguém]