uma conversa sobre oralidade, memória, tradição, património e identidade cultural
20 de Março 2021, 15h00, Webinar
São várias as pessoas que, ao longo dos anos, têm desenvolvido trabalho em torno da escuta, criando ou facilitando espaços que promovem a expressão de viva voz, seja ela individual ou colectiva. Conversam, convidam, gravam e recolhem um pouco de tudo, entre muitas áreas que suscitam interesse e curiosidade. No cerne destes trabalhos estão pessoas e comunidades a transmitir histórias, músicas, danças, ofícios; a exprimir as suas percepções e experiências sobre temas específicos, num infinito rol de possibilidades; a partilhar memórias pessoais e colectivas.
Assim, se vão constituindo projectos com características variadas, uns que seguem mais o caminho da transumância, e que viajam em busca de um tema contactando com várias comunidades e culturas; outros que se enraízam, e escolhem aprofundar o conhecimento sobre a vivência de um determinado território, desenvolvendo por vezes um trabalho que toca várias áreas da acção humana.
As experiências de interacção com a memória e tradição oral dos territórios e comunidades originam grande variedade de acções e resultados: como a recolha e a salvaguarda de registos; a divulgação de materiais recolhidos; a investigação e reflexão; a transmissão e a reactivação de práticas antigas; a recriação, e mesmo, a criação de objectos artísticos.
Trabalhar em arte, cultura e comunidade implica mergulhar na diversidade, e diversos são, talvez por isso, os projectos desenvolvidos pela Celina da Piedade, pela Cristina Taquelim, pelo João Romba, pela Rossana Torres e pelo Tiago Velhinha Pereira, um pouco por todo o país. É precisamente a diversidade que queremos escutar nesta conversa, em que o/as convidamos a contar as suas experiências, com vista à equação de formas colaborativas de valorização da cultura; de exercício coletivo de recriação; de salvaguarda e transmissão da memória coletiva às novas gerações.
Finalmente, é nosso desejo que este seja o começo de um caminho partilhado, de conversa e reflexão sobre as práticas artísticas e culturais em comunidade, iniciando assim o ciclo de Conversas De Boca em Boca, com muitos encontros futuros.
Celina da Piedade
Quem já a viu em palco reconhece-lhe o imenso carisma. Celina da Piedade é compositora, acordeonista e cantora, e tem levado a sua criatividade aos mais variados contextos, da música de tradição a um sentir mais contemporâneo e universalista, passando por toda a riqueza do Cante Alentejano mas também a energia do folk e da música pop. Para além do seu projecto homónimo – apresentou ontem ao público o seu quarto disco a solo, “Ao vivo na Casinha” – toca actualmente com os Tais Quais e Rodrigo Leão. Ao longo destes anos participou como instrumentista e formadora em centenas de oficinas em torno da dança e da música tradicional por todo o mundo. Dedica-se activamente à investigação nas áreas do Património Imaterial e da Etnomusicologia, à mediação e divulgação do património musical alentejano, colaborando com cantadores, grupos corais e entidades locais. É actualmente professora no projecto “Cante nas Escolas”, do Município de Beja. É co-autora do livro “Caderno de Danças do Alentejo”, ed. PédeXumbo.
Cristina Taquelim
É Licenciada em Psicologia e Pós- Graduada em Ciências Documentais – Tem 30 anos de experiência em projetos de leitura pública. Gosta de desenhar lugares onde, em torno das palavras, nos juntamos para celebrar os dias e as horas: jardins, praças, aldeias e largos. Dos contos sabe que os escuta cada vez melhor. Por ter a cabeça cheia de perguntas, medos e viver quase sempre deslumbrada com a vida, lê, conta e, às vezes, escreve. Gosta de fazer com sentido.
João Romba
O João cresceu no sul de Portugal até aos 20 anos. Depois rumou a Lisboa para estudar fotografia, mas por lá ficou pouco tempo. Achou que a movida de Lisboa não era para ele e decidiu ir até ao norte do país ver como era por lá. Viveu em Foz Coa, onde se ligou à preservação dos patrimónios, material e imaterial e mudou-se mais tarde para Figueira de Castelo Rodrigo, onde começou a criar competências de naturista e criador de conteúdos em filme. Ensinou fotografia na escola secundária e ajudou a ligar a escola com o Arquivo de Memória do Vale do Côa, hoje apenas Arquivo de Memória. 6 anos mais tarde, foi espreitar a vida na Alemanha e por lá trabalhou como fotógrafo e realizador, mas também como cuidador de pessoas com capacidades reduzidas e como empregado de mesa. Com estas experiências, aprendeu mais duas línguas, somando às 3 que já sabia. Apesar da distância, manteve sempre um pézinho em Portugal, acompanhando os projectos que surgiam na sua terra. Iniciou-se na área da agricultura regenerativa e preparou-se para saber colher os frutos da terra. Passados quase 5 anos de aventuras alemãs, voltou para Mertóla com a companheira, para regenerar a paisagem, e captar em vídeo essa e outras paisagens – a das memórias, das gentes, dos costumes, e do agora.
Rossana Torres
Vive em Mértola no Alentejo, onde lecciona fotografia e vídeo e realiza variadas oficinas de cinema. Estuda artes visuais e cinema e frequenta o mestrado de Educação Artística na Faculdade de Belas Artes em Lisboa. Colabora com vários realizadores portugueses como assistente de realização, produção, registo de imagem, registo de som, montagem de imagem e som. Funda a Associação Entre Imagem cujo fim se destina a proporcionar o desenvolvimento cultural, criativo e social da comunidade, através da concepção, produção e realização de filmes, de actividades culturais, artísticas e pedagógicas e de intercâmbios nacionais e internacionais. Colabora com a associação Os Filhos de Lumière, no estudo, na concepção e implementação de programas pedagógicos de educação artística através do cinema. Realiza com Hiroatsu Suzuki três filmes: 2018 – Terra (co-Realização); 2012 – O Sabor do Leite Creme (co-Realização); 2009 – Cordão Verde (co-Realização). O filme Terra ganhou o prémio Doclisboa’18 para Melhor Filme Competição Portuguesa.
Tiago Pereira
Realizador, documentarista, radialista e visualista, Tiago Pereira tem promovido e divulgado a música portuguesa, como mentor e diretor do projeto: “A música portuguesa a gostar dela própria”, em várias direções, tornando-se um ativista, defensor da memória coletiva e tradição oral, realizando filmes, séries documentais, programas de rádio, programação musical e de eventos sobre o tema da cultura popular. Tem como principal objectivo a procura de outra música, mais amadora e pouco divulgada, mais concentrada na interpretação e nas pessoas, do que no seu repertório ou no seu estudo, para que depois se disponibilizem as gravações dessa música, para estudo, fruição geral ou utilização artística. Considera que o seu trabalho deve honrar quem grava, tentando chegar ao maior número de públicos possíveis, de várias formas e meios diferentes. Tendo sempre a atenção que o foco não pode estar no mensageiro, mas sim na mensagem, na necessidade de educar, consciencializar para a importância cultural e social de conhecer, estar, partilhar e dar a conhecer pessoas que têm conhecimentos únicos e formas de vida muito suas. Fazer entender que cada pessoa tem a sua história e que deve ter um espaço para a partilhar com dignidade.Essa partilha, essa escuta é que nos pode ajudar a todos, a sermos melhores e a pensarmos melhor o mundo e a sociedade.
Concepção e moderação de Rita Sales .